segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Começo!

Seria pretensão minha dizer-lhe que daqui em diante sua vida vai mudar?!
Bem... Seria.
Enfim,
Caso não mude, ligue para irmã Marlene (os interessados peçam-me o telefone).

Sabe aqueles escritores medíocres que escrevem porcarias e obrigam você (amigo, colega, familiar e outras tantas raças de cristão) a perder tempo lendo idiotices e comentando-as, com doses cavalares de eufemismo barato? Eu sou um deles. Pois então tratem de arrumar tempo e paciência, pois eu não pretendo poupá-los!

Para começar, vou publicar um de meus contos mais antigos, que confesso achá-lo um pouco verde, mas que relendo por esses dias admito enxergar certa graça nele.

Sim! Se alguém souber alguma piada boa, pode me contar, ando precisado.

DICA DO DIA: Nunca duvidem da fidelidade dos asmáticos, pois eles já têm problemas demais.

No mais, peço que me desculpem caso haja algum problema ortográfico. Prenderam meus óculos ontem! Ele estava tentando me matar de vergonha!

Aí vai...




Amigas de igreja


Meio


...Desceu do ônibus.

Esse é o final da história, mas vou-lhes contar o meio, pois final sem meio é começo.


Eliane era seu nome, morava no Alto Pascoal e possuía uma casa com dois andares, ou melhor, um puxadinho vertical. Engravidara aos dezessete anos e criava um filho de quatro, literal e metaforicamente.

Quando ia trabalhar apanhava Pascoal/derby, pois conhecia o motorista. Nem sei se existe mais. Deixava o seu filho com Joelma, amiga de igreja. O pastor sempre dizia que mãe é quem cria, mas Eliane não podia deixar de encontrar Kerginaldo, era uma necessidade. Seu filho, Stanley, tinha cabelos pretos e olhos verdes, herdados do seu pai, um sarará. Stanley não gostava da mãe, mas também não gostava de muita coisa.


Joelma


Conhecera Joelma na igreja a, precisamente, 5 anos. Mantinha uma relação de amizade tão intensa que as portas de suas casas não eram mais obstáculos entre elas. Eliane confiaria sua vida a ela, se fosse necessário. E isto é tudo que precisas saber.


O começo


Se tu não percebeste, perceba agora. No capitulo anterior não falei do começo, pois me preocupei com o meio e o fim, mas toda história tem um começo e, por mais insigne que seja, merece ser contado.


XXXVI


-36, por favor. - Berrou o balconista.

Depois de entregar a senha ela subiu as escadas. Entrou numa sala amadeirada onde estava sentado um sujeito de meia idade e olhos verdes.

-Sente-se!- Disse o sujeito. Aproximou-se e puxou a cadeira. Estava nervosa.

-Quanto quer?- Perguntou o sujeito.
- Minha mãe está muito doente e eu... -

-Não estou preocupado com a história da puta da tua mãe! Quanto quer?!-

-Trinta!-

-Vai pagar quando?-

- Daqui a uma semana. -

-Então vai pagar 60. -

-Mais eu só... - Interrompeu-a.

-Quer ou não quer?-
Pegou o dinheiro e saiu resmungando e, descendo as escadas, ouviu o balconista,

-Próximo!-


Reflexão do próximo


Pauso a narrativa para decifrar o que se passava na cabeça de Eliane enquanto descia as escadas.

“O próximo...

O próximo deve sê apenas mai um que vai subi as escada e depoi descê. Ingualzinho a mim. Primeiro eu, depoi ele e depoi outro. Depoi eu de novo, depoi ele de novo e depoi o outro de novo. Passa tanta gente puressa escada, mai ela não tem história alguma. O próximo se chama 37, mai amanhã ele pode sê 15. Eu hoje fui 36.

Semana que vem, quando eu vim cum Binha, quero ser pelo menu a 9.”


Semana que vem


A semana que vem chegou. Binha não pode ir, foi só mesmo. Nesse dia se Chamava 22. Não era o que queria, mas pelo menos não era 36. Levara 40 reais e, junto ao dinheiro, dentro da carteira, o medo.

-Só isso! Eu te empresto a porra dos 30 reais e você me aparece aqui só com isso, sua puta?! Ta doida?-

-Mai eu não tenho esse din... -

-Arruma! Tenho certeza que em algum desse bolsos tem mais 20 conto. Bora cacete, esvazia as porra dos bolso!-

-Óia aqui moço eu não tenho não. Pur favor deixa eu ir. -

-Vai tomar no cú! Tu arruma a porra dos 40 e num consegue mais 20. Ou você me paga a merda do dinheiro ou você me paga com outro tipo de serviço!-

-Que selviço!?-


E foi assim que nasceu Stanley.


Retomada


Voltemos, enfim, para o meio. Saiu às 22h30min, uma minúscula saia preta e uma camisa marrom curtíssima a vestia. Seu ponto era na Avenida Marechal Luis Osório, Kerginaldo era sempre seu primeiro cliente nos sábados, “Não gosto de Pão com banha!”, dizia. Eliane o atendia cegamente, não iniciava a jornada enquanto “Kergi.”, era assim que ela o chamava, batesse o ponto.

-Eu sô puta, mas ti amo vi kergi!-

-Eu também minha estauta! Tu num sabe?-Fazia questão de dizer isso em todos os encontros e, realmente, era semi-fiel a kerginaldo. Fazia questão de não cobrar.

-Qui hora tu acaba o selviço?-

- Sei não vi Kergi, mai acho que hoje num vai tê muita gente não-

- Intão tu vai mi encontrar amais tarde?-

-Aonde mininu?!-

- La nu bá du tel.-

- Pronto. Intão ta certo. Mai tu num fica bebênu muitu não antes deu chega não, visse?-

-Visse!-

-Xau!-

Despediram-se, enfim, ou quem sabe, em começo. Dali foi pro abate, a cabeça baixa não a deixava ver estrelas. Não gostava do que fazia. “Eu sô crente”. As lágrimas sinceras não demoravam a cair e, uma por uma, enchia o seu copo de vergonha. Pensava em Kergi, e bebia tudo em um único gole.


Fim da jornada e ultima aurora


Sentia-se imunda.


O encontro


Três horas no relógio. Sete de desespero. Quinze minutos de espera e a subida no ônibus. O tempo passava em um minuto. Não via mais rostos, via carne. Só carne.


Puxou o cordão preto, era o sinal da descida. Desceu quando a luz já clareava. O sol dissecou toda a magoa, sua áurea tornou-se viva novamente. Ergueu sua cabeça e abriu um sorriso quando ouviu o barulho da manhã.

-Será que Kergi ainda ta lá? Espero que sim!-

Estava decidida a largar essa vida. Casaria com Kerginaldo, teria mais dois filhos e cuidaria de Kergi. “só di Kergi!”.


A cem metros


O seu destino estava a cem metros e a 37 segundos. A mesa pra dois, com uma das cadeiras vazia, encheu a sua alma de luz. Parou, olhou para o céu e com devoção os braços levantou. Rezou.

Saiu do transe e caminhou com passos de procissão na direção do amado. Seu coração batia mais rápido e seu corpo explodia em grandes erupções nervosas.


Do céu para o inferno


Do céu para o inferno desceu sem escalas, quando viu uma mulher saindo do banheiro e sentando em seu lugar. Parou. Chorou... Caminhou.

Tirou o que estava escondido e fez espirrar, com uma só facada, o sangue do pescoço de Joelma. O vermelho do sangue que a banhava tingia sua alma de uma paz sem fim e o sabor da vingança ensangüentada fez-la sentir, pela primeira vez, o gosto da carne.

Com uma gargalhada de tirar o fôlego, deixou Kerginaldo sentado no bar, sem nenhuma reação, balbuciando duas palavras:

-Ta c´oa cibôla!-


Subiu no ônibus. Desceu do ônibus.


Fim

2 comentários:

  1. Estou duro e quero ficar mole. Minha vida não mudou com a leitura desse blog.
    Qual o telefone de Irmã Marlene?
    Ela aceita ligação a cobrar?
    Tem 0800?
    Estou sendo educado e compreensivo pela última vez.

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