terça-feira, 27 de julho de 2010

Por trás do atrás

Com todo meu discernimento

Com todo meu modesto arsenal de palavras

Com todas as balas de minha metralhadora

Com todo meu pender de juízo


Tu és a falta

Que é do tamanho de todos os metros somados

De todas as teias


Tu és o contexto e o pretexto

Tu és a aparente frieza que se desmantela

Com o mais simples esconderijo


São teus os olhos que me dão

A tranqüilidade dos responsáveis

E a agonia dos ansiosos


O sem maquilagem

Por trás do certo

Por trás do atrás de tudo

J.

sábado, 8 de maio de 2010

A mulher mais longe do mundo

Tua existência quase recomendada
Teu acesso labiríntico e anacrônico
E o teu sadismo de canto de boca
Que usas para esticar cada minuto de ausência

Com o sorriso fazes-me macumba
Com os olhos repetes a mandinga
E com o resto do corpo...
Não sei, fiquei nos olhos

Se a lonjura é demasiada
E o caminho é reto e sem criatividade
Invento um novo passa tempo
Contando cada minuto
E multiplicando-os pelos segundos

Mas se a viagem é tão longa
Que é o próprio lugar
Vivo no meio do caminho
Que é também o final
Imaginando o dia da chegada

Se um dia eu chegasse
E te encontrasse acordada
Voltaria outro dia
Se tempo de vida eu tivesse
Só pra ver como dormes


J.

domingo, 25 de abril de 2010

Três andares

Três andares
Os três primeiros andares
Três janelas
As três janelas acesas

Três acordados enoitecidos
Três covardes do sono
Três covardes da vista
Ou três sonos interrompidos

Três noites mal dormidas
Três noites bem acordadas
Três mulheres descontroladas

As luzes continuam acesas até que o sol venha impor seu descontentamento. Os raios desabam por entre nuvens de uma manhã nublada, um desaforo à vaidade das mulheres que acordam.

Ainda com os cabelos despenteados, mas sem o habitual riso do canto dos lábios elas vão fazer aquilo que não precisam fazer e fogem como quem foge de uma tempestade de ressaca moral.

Os homens, agora molhados, perdem todos os seus argumentos ao perceberem que usaram as toalhas recém usadas.

J.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O poeta de Marte

Quero começar o disparate
Com meu veneno tradicional
Ainda que não mortal
Espalhado por toda parte

Posso continuar com rima
Como se fosse um poeta de Marte
Rimando os versos de cima
Pintar estrelas no escuro
Improvisar um lugar mais seguro
Antes que a terra se acabe

Na minha mala esquecerei
Da preta que não mereço
E é dela que levo saudade
Dos amigos extraviados
De certo Diogo que é viado
E do vizinho que não me cabe

Em Marte pretendo pensar
Em Antônio o zelador
Poeta por acidente
Nas coisas que deixei de levar
Nos peitos que eu deixei de mamar
E nas coxas de minha mente

Pra Marte os problemas pequenos
Poemas ingênuos
Um político do gênero
Um atirador de elite
Pra furar as estrelas que nunca viste
Do trono do teu império

Para as dores todos os remédios
Inclusive os artificiais
Para problemas espaciais
E a mulata Ludovina
Com cara de menina
Para os sentimentais

Sem mais demora
Parto antes do fim do mundo
E do caos de cada hora
Levando cada segundo
Parto antes do fim do mundo
Antes que o mundo me ponha pra fora


J.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Feche os olhos

Seus olhos falam pelos cotovelos
Desconcertam-me
Só basta um deslize

Um desencontro
E pronto

Suas bocas me engolem


J.

O nunca mais

A fumaça quase escondia
A boca que dizia
Com seus lábios vermelhos
E o seu sinal
Elegantemente preto:

Meu nome é Nunca mais

Meu ofício?
Saudade

Minha sorte?
O desengano

Uma palavra?
Adeus

J.
Disse-lhe certa vez
Que as palavras que eu dizia
Eram ofensas
E que a ironia delas
Era apenas tristeza com vaidade

Disse-lhe ainda
Que do coração pulsa sangue
E que os ventrículos que nele existem
Não há espaço
Para o que neles deveria estar

Depois lhe disse que era tudo mentira
E que nunca mais confiasse em mim


J.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Duas horas da manhã.
A claridade de um poste
Ilumina os carros pingados
Que às vezes rasgam o lacre da noite.

Na porra da janela de um prédio feio,
Uma moça oferece os desnudos seios.
Os deuses dançam,
Satisfeitos.

J.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Sonoro da sandice

Puta que o pariu tem alguém aqui
Puta que o pariu tem alguém aqui
Puta que o pariu tem alguém aqui
Puta que o pariu tem ninguém aqui
Puta que o pariu tem ninguém aqui
Puta que o pariu tem ninguém aqui

Puta que o pariu tem alguém na sala
Puta que o pariu tem alguém na sala
Puta que o pariu tem alguém na sala
Puta que o pariu tem ninguém na sala
Puta que o pariu tem ninguém na sala
Puta que o pariu tem ninguém na sala

Puta que o pariu tem alguém no quarto
Puta que o pariu tem alguém no quarto
Puta que o pariu tem alguém no quarto
Puta que o pariu tem alguém aqui

J.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Com a intenção de agüentar
O peso da pele sobre a carne fresca
Rego-as com adjetivos
As rosas insustentáveis

Vejo-as florescer
Junto à minha horta de decepções

Colho-as
Guardo-as
E as vejo morrer
Uma após uma

J.

Homensação

Uma garrafa de qualquer coisa
E a qualquer coisa está feita
É quando a porra da sensação me vem

Homensação...
Taí!
Homensação

No momento em que as sensações Convergem à carne
E os sentidos Diluem as cores

J.